quarta-feira, 5 de maio de 2010

Por um Corinthiano

Ainda com a faca no peito escrevo sobre a angústia. São exatamente duas horas e oito minutos da manha e só agora a mistura de emoções parece ter ido tirar uma soneca. Juntar os cacos é tarefa para poucos e bons. Tentar unir os pedaços provoca sempre a escapulida de uma ponta que ainda vai demorar a se encaixar. Mesmo assim, vai deixar uma fissura.

Caímos dignamente. E não há como tirar dessa frase um tom de frustração que permite o deboche aceitável do rival que cumpre seu papel. Ainda bem! Terreno fértil para frases feitas como: “nadou, nadou e morreu na praia” ou “jogaram como nunca e perderam como sempre”. Mas não. O Corinthians não perdeu como sempre na Libertadores. Pelo menos, não com o mesmo ódio. Ódio que a disputa de pênaltis fez surgir duas vezes em direção a uma criatura admirável como o goleiro palestrino Marcos. Ódio transformado em selvageria injustificável quando fomos o touro na nossa própria arena contra o River Plate.

Aplausos de reconhecimento e sangue ao término do jogo no Pacaembu. Mas, sobretudo aplausos de respeito. Inocentes talvez, porque são baseados em um treinador com uma clareza incrível em suas ponderações e análises. Em um grupo de jogadores que parece ter estofo e caráter suficientes para permitir que a torcida abra os braços e os carregue de volta a trilha espinhosa do sonho que teima em dizer que é pesadelo. Em um presidente que prometeu modernizar o clube fazendo com que o gigante usufruisse comercialmente mais e melhor do seu tamanho. E o fez. Andrés que tem 3 títulos em 2 anos e meio e também, a serenidade de vir a público e não maximizar a tragédia. Procedimento simples sim, mas impensável em tempos anteriores onde reinavam a paixão pura e a desordem.

Complacência em excesso é um defeito tão grave quanto a precipitação. Por isso é legítimo apontar o dedo em direção as falhas e a seus autores. A maior delas de Moacir, ao fazer a penalidade que gerou a derrota do Maracanã. Ou será de Mano? Que contratou um lateral “dono” de um Campeonato Brasileiro medíocre por um time rebaixado em 2009. É também do torcedor que pela desvantagem em relação aos adversários regionais, transmite aspecto de obrigação a uma conquista. E uma grande conquista é sempre um mérito. Nunca uma obrigação.

Flamengo. Melhor em três dos quatro tempos da decisão. E muito melhor no mais decisivo deles. Um time que, em todos os momentos que esteve concentrado, foi superior. Não porque seja uma “máquina” e tenha feito duas ótimas exibições. Mas, porque soube defender e atacar quando preciso. Foi solidário. Foi terrivelmente cruel ao encarar essa partida como mais um jogo importante e decisivo. Só mais um. A reclamar, apenas dos Deuses do futebol, que para os corinthianos parecem interferir sem piedade no destino. Ah! Os dedos de Bruno na falta batida por Chicão.
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