segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Vai sair na marra e na conveniência

A obviedade burra diz que os corinthianos devem estar mais que felizes, enlouquecidos pela possibilidade mais real em cem anos de história da construção de um estádio próprio. Essa mesma obviedade faz os cartolas de Parque São Jorge declamarem escondidos na coxia dos bastidores uma vitória diante do São Paulo, na batalha pessoal de egos e muita, muita grana mesmo, que envolve a sede da abertura do Mundial de 2014.

O amante racional do futebol chora ao ver um evento como a Copa ser utilizado como ferramenta de manobra da grande massa que paga impostos, mas pouco parece se importar com o destino que sua contribuição tem à partir do momento que chega aos cofres públicos. Ou alguém sem interesse econômico nas novas obras e desprovido da paixão clubística mais exacerbada acha realmente necessário o erguimento de mais um estádio para a capital paulista? Pior. Não se pode negar que essa decisão vai trazer dividendos políticos positivos para todos os envolvidos, direta ou indiretamente.

Justamente quando o Palmeiras reforma seu estádio com parcerias e dinheiro da iniciativa privada e o São Paulo se disponibiliza a fazer uma reforma que considera viável em seu palco. Reforma essa que já seria capaz de abrigar uma semifinal.

E Lula sabe de tudo isso. Mesmo sendo "um fiel", não é favorável a obra em Itaquera, ou pelo menos, a intenção de que ela sirva a Copa. Porque sabe que o Morumbi teria condições para faze-lo. O líder popular de força incalculável, que consegue "criar" uma sucessora a sua imagem e semelhança e coloca-la numa posição de virtual presidenta do país, não se atreve no entanto, a bater de frente com os cartolas da bola e usar seu prestígio para evitar o arrombamento desnecessário das finanças públicas.

Quando o leitor ouvir a frase: Aqui não haverá dinheiro governamental para constução de estádio visando a Copa, desconfie. O novo subterfúgio se chama empréstimo do BNDES. O Banco Nacional do Desenvolvimento está se oferecendo de braços e bolsos abertos a todos aqueles que se disponibilizarem a "ajudar o país para o Mundial". Quer comprovar o que digo? Tente você pequeno empresário adquirir um empréstimo de um valor muito mais baixo junto ao mesmo banco. Enfrentará todo tipo de processo burocrático possível. Terá que comprovar quem sabe até a lisura financeira do seu vizinho. Além é claro de contar com a paciência e a sorte.

O governo paulista que até pouco tempo tinha a postura admirável de vetar que coisas do tipo acontecessem no estado, agora se finge de morto diante da opinião pública. Aderindo ao discurso do quem não ajuda não atrapalha. Não é difícil encontrar na cúpula, sorrisos e suspiros de alívio. Uma saída conveniente para todos os interessados. Empréstimo do BNDES não é ilegal. Mas, neste caso, é imoral.