quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Eu vi a Marta e as guerreiras

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Estados Unidos 1 x 0 Brasil. E o que isso importa? Todo mundo diz que futebol é resultado. É claro que ganhar é fundamental, ainda mais numa disputa que valia um inédito ouro olímpico. Mas não podemos ser simplistas depois de ver uma exibição tão genuinamente brasileira como a que fizeram as nossas meninas do futebol feminino.


Sim. Nossas meninas. Porque cada brasileiro que gosta nem que seja só um pouquinho de futebol e viu essa semifinal, com certeza se sentiu representado e muito bem, por cada uma das guerreiras com a camisa amarela. Eu vi. E não sou adepto do termo “pátria de chuteira”. Mas fico encantado quando vejo aqueles que têm a chance de representar o Brasil, fazendo isso com a mais inesgotável das dedicações.


Elas não tiveram a calma, a competência e a sorte necessárias para fazer o gol. E o que isso importa? Nada. Diante de um time corajoso. que jogou o tempo todo em busca do gol. E fez com brilho. Dribles, lançamentos, habilidade, agilidade de raciocínio e sem fugir da responsabilidade. Alegria, talento, exaustão, brio, comprometimento e todos mais os adjetivos e substantivos que possam descrever a arte de jogar futebol.


Eu vi uma camisa 10. E que camisa 10! Zico e Pelé fatalmente sentiram que Marta pertence, junto com eles, ao clube dos fora de série. Ela acumula vice campeonatos? E o que isso importa? Nada. Os grandes não precisam de taça. Quantos são os campeões que não admitem suas falhas? Talvez muitos. Quantos são os reconhecidamente especiais que tem a humildade de perguntar a si mesmo e aos céus onde estão seus erros? Certamente poucos.


Os mais maldosos podem dizer: Mais quatro anos e outra derrota para as americanas. Vale lamentar a lógica gélida desses. Fria e triste matemática que não pode deixar o sentimento ter voz. Legítimo é se chatear pela ausência de um campeonato descente por aqui. Lamentar porque temos que esperar mundiais, olimpíadas e panamericanos para ver partidas como essa. E o que mais dói? Nada vai ser feito. O azar é do Brasil e é só nosso. Elas vão desfilar em outros campos e fazer palpitar outros corações. Que pena.


Essas guerreiras merecem ser recebidas no aeroporto, desfilar em carro aberto, dar cambalhotas na rampa do planalto. Mas porque as “autoridades” não dão a mínima para o futebol feminino? Queria saber responder. Queria ter visto o choro ser de alegria. Mas não tem problema. O choro da dignidade é o mais bonito. E o Brasil chorou com Marta e as guerreiras